Escrevo ao Vivo, de Anízio Vianna
(…) O meu agora é mais eterno que este minuto. Guarda a melhor tempestade. Não funciona um guarda-chuva. Eu sou o que você não leu.”
Há alguns dias estive fisgada por um livro. É o Escrevo ao vivo, de Anízio Vianna. O livro, que traz 264 páginas, volumoso, em geral, para uma coletânea de poesia, me surpreendeu porque dá conta da quantidade, com qualidade. É livro de pegar e só largar no final; embala, leva, encanta. Há nele contundência, beleza, fina ironia, um tipo muito especial de fé e empatia enorme.
Anízio consegue fazer uma poesia descomplicada, abordando temas sérios, de maneira profunda; dando conta do mundo com suas inúmeras referências. Ao utilizar principalmente as notícias de jornal como motor para a escrita em Escrevo ao vivo, Anízio reporta ao leitor acontecimentos atuais, mas, antes, passa-os pelo filtro da poesia. O resultado são poemas que tratam, por exemplo, de política, sociedade, religião, religiosidade, violência, violência policial, amor, machismo, racismo, desigualdade, compaixão.
A maioria dos poemas traz um número de referência, que ao fim do livro leva o leitor à notícia que o desencadeou. O livro de Anízio Vianna, assim, além do exercício delicioso de ler poesia, nos dá o exercício da revisita, um convite sublinhado para a reflexão e apela para nossa memória, tão fragilizada em tempos de excesso insano de informações.
É ainda de se notar, na forma, a força da musicalidade nos poemas de Escrevo ao vivo. O ritmo privilegia a leitura em voz alta e, muitas vezes, me peguei falando poemas que quase me vinham como uma espécie de rap.
Com uma consciência social agudíssima, inteligência, riqueza de leituras e uma sensibilidade tão necessária para a poesia, os poemas de Anízio Vianna conseguem um ataque coordenado: cérebro e coração. O leitor, atordoado, só quer ler mais. Poesia com o pé no mundo, que aprendeu uma das lições emocionadas do grande Drummond. O tempo presente, os homens presentes, a vida presente é a matéria de Anízio Vianna.
Adriane Garcia (Belo Horizonte, 1973) é uma poeta, escritora, teatroeducadora e atriz brasileira. Graduou-se em História pela Universidade Federal de Minas Gerais e se especializou em Arte-Educação na UEMG. Seu primeiro livro, Fábulas para adulto perder o sono, venceu o Prêmio Paraná de Literatura em 2013, na categoria poesia. Em 2017, foi curadora do Festival Literário Internacional de Belo Horizonte.